sábado, 14 de janeiro de 2012

Pecados Mortais - Dissertação

Pecados Mortais da Dissertação
PECADO 1Letra ilegível
Vestibulares e concursos – Aplica-se este item à dissertação exigida nos vestibulares e concursos, cuja composição é feita de forma manuscrita.
Decifrando a escrita – Não se consegue valorizar ou admirar o que é incompreensível. O professor encarregado da avaliação tem tempo estipulado para concluir o trabalho de correção. Não pode, pois, perder tempo tentando adivinhar (às vezes decifrar) o que o candidato escreveu. Não se exige do redator letra bonita; exige-se letra legível, de fácil compreensão.
Solução – Depois de uma  certa idade, é quase impossível mudar totalmente o aspecto da caligrafia. Mas é possível melhorá-la, atentando no formato de algumas letras. Às vezes, a leitura torna-se difícil por causa do m, do n e do u que se confundem no papel. Outras vezes, o l e o t são grafados de tal forma (ou tamanho) que atrapalham a compreensão das palavras contidas nas linhas superiores ou inferiores. Uma vez identificado o problema, deve-se escrever com mais apuro, principalmente quando se produz texto para ser avaliado
por alguém.
PECADO 2– Fuga do assunto
Falha grave – É, com certeza, o pior deslize numa dissertação. Se o trabalho vale nota, a fuga do tema conduz ao zero por falta de adequação entre o texto ou título proposto e as ideias expostas pelo candidato. Escrever fugindo do assunto sugere:
a) Falta de planejamento sobre o que se está produzindo.
b) Pouca capacidade de concentração.
c) Incapacidade de delimitação do assunto.
d) Desvio intencional para tópicos decorados previamente.
Fuga parcial – Às vezes, os rodeios, a preparação excessiva para finalmente falar se do tema constituem fugas parciais que, dependendo de quem está avaliando o trabalho, também conduzem ao zero. O tema “Violência urbana” pode virar livro nas mãos de escritor habilidoso. O que se quer do aluno é apenas uma dissertação de, no máximo, trinta e cinco linhas. Falar de Abel e Caim, da violência praticada em Roma à época dos Césares é fugir do assunto porque não há espaço (nem tempo) para tantos dados. O melhor caminho é falar da violência urbana hoje, apontando causas, consequências e, se possível, soluções para o problema abordado.
Solução – É preciso organizar-se didaticamente para escrever bem. A elaboração de rascunho, enumerando tópicos como causas, consequências,
soluções, ideias contra ou a favor ajuda o redator a manter-se fiel ao tema, além de garantir uma sequencia lógica para os parágrafos da dissertação.
PECADO 3– Uso de gírias
Linguagem formal – No texto narrativo, a gíria é, em certos momentos, perfeitamente cabível. Às vezes, faz parte dos traços individuais da personagem. No dissertativo, porém, é um desastre. Isso porque a dissertação exige uma linguagem formal, não necessariamente erudita, mas pelo menos bem elaborada. Veja expressõesque não têm espaço em dissertações:
1. Esses caras.
2. Maneiro.
3. Saia dessa.
4. Estou noutra.
5. O meganha.
6. O maior barato.
7. Esse papo não cola.
8. Mina.
9. Gente da pesada.
10. Cada um na sua.
11. Pra cima de mim, não.
12. Tudo em cima.
13. Muito legal.
14. Bicho.
15. Não enche.
16. Tudo em riba.
Solução – O uso de gírias em textos dissertativos só acontece, pela lógica, com os adolescentes. Pessoas adultas têm um senso de correção (e de ridículo) mais apurado quando se trata de texto escrito.
PECADO 4 Provérbios, frases feitas, ditos populares.
As frases feitas, os provérbios, os ditos que estão na boca de todo mundo empobrecem a redação, dando a impressão de que o autor não tem criatividade. Veja expressões que você deve evitar.
a) Primeiro parágrafo
Para iniciar a dissertação (primeira linha do primeiro parágrafo), não use:
1. Atualmente...
2. Antigamente...
3. Hoje em dia...
4. Nos dias de hoje...
5. No mundo de hoje...
6. Dando início ao meu trabalho...
7 Desde os primórdios da nossa existência...
Observação:
Algumas das expressões acima podem ser usadas no corpo dos parágrafos sem que isso implique lugar-comum.
b) Último parágrafo
Para iniciar o último parágrafo da dissertação, não use:
1. Finalizando o meu trabalho...
2. Concluindo...
3. Resumindo tudo o que eu disse antes...
4. Em síntese...
5. Em resumo...
c) Em qualquer parte do texto
De modo geral, não use as expressões seguintes em texto dissertativo:
1. Como já dizia meu avô...
2. A esperança é a última que morre...
3. Quem avisa amigo é...
4. Quem espera sempre alcança...
5. Dar a volta por cima...
6. Agradar a gregos e a troianos...
7. Colocando um ponto final...
8. De mão beijada...
9. De vento em popa...
10. Depois de um longo e tenebroso inverno...
11. Ensaiar os primeiros passos...
12. Faca de dois gumes...
13. Fazer das tripas coração...
14. Passar em brancas nuvens...
15. Pôr a casa em ordem...
16. Procurar chifre em cabeça de cavalo...
17. Tábua de salvação...
18. Tirar o cavalo da chuva...
Observação:
Algumas das expressões listadas podem ser empregadas coerentemente, desde que predomine a criatividade. Às vezes, os lugares-comuns denotam ironia. Nesse caso, ao invés de depreciar, valorizam o texto em que se inserem.
PECADO 5 Incluir-se na dissertação
Indecisão
Dissertar é emitir sua visão (crítica, de preferência) sobre um assunto proposto. É analisar de modo impessoal e com total objetividade. Mas o que fazer diante  o emprego do “eu” ou do “nós” em dissertações bem estruturadas. O que acontece, às vezes, é o uso de tais pronomes sem argumentação que os justifique. Ao invés de mostrar firmeza e segurança, o aluno passa ao examinador a ideia de indecisão e de fraqueza.
Expressões pessoais
Outro aspecto negativo é a mistura de problemas pessoais ou particulares com a problemática sobre a qual se está dissertando. Aconselha-se, pois, que o candidato evite o uso das expressões seguintes. Se forem empregadas, entretanto, de forma adequada, no momento certo, podem estar coerentes e ser valorizadas pelo examinador.
1. Na minha opinião...
2. No meu entender...
3. Ao meu ver...
4. No meu ponto de vista...
5. Eu vejo por mim mesmo...
6. Como já aconteceu comigo...
7. Isso é o que eu penso...
8. Conforme a minha visão do mundo...
9. Eu acho...
10. Eu imagino que...
11. Eu penso que...
12. Eu concluo que...
Solução
Deve-se adotar na dissertação uma atitude crítica, dizendo verdades universais, aplicáveis a todos. A questão pessoal soa como depoimento, e dissertar, exige mais que isso: tem-se de argumentar, sustentando ideias que convençam.
PECADO 6 Misturar dissertação com religião
Argumentação
A dissertação é baseada sempre na argumentação cuja base é a lógica. Misturá-la com questões de fé é inconcebível, pois os dogmas religiosos, os preceitos e as crendices independem de provas ou de evidências constatáveis.
Veja algumas construções que denotam
fanatismo e exagero por parte de quem as usa:
1. A solução para a violência urbana está em Jesus Cristo, nosso salvador.
2. Frequentar a igreja regularmente e confessar-se uma vez por semana: é o conselho que dou para quem está passando por conflitos familiares.
3. O conflito pela posse da terra só acontece no Brasil por falta de leitura da Bíblia. Tanto o Velho quanto o Novo Testamento trazem ensinamentos que, se aplicados ao campo brasileiro, resolveriam o problema da Reforma
Agrária.
4. Antes de cultura e de educação, o povo brasileiro precisa mistificar-se, aceitar Jesus como salvador universal. Aí, sim, todos os problemas de de injustiças sociais serão resolvidos.
Em nenhuma hipótese, crendices ou dogmas devem servir de base para a composição de textos dissertativos. Os aspectos místicos ou esotéricos não combinam com visão crítica.
PECADO 7 Emoções exageradas Emoções pessoais
Às vezes, o tema que se está explorando na dissertação engloba problemas e/ou situações pelos quais o escrevente já passou (ou está passando). Nesse caso, devem-se evitar as emoções pessoais. Elas denotam revolta, e o registro no papel pende para o exagero.
Veja algumas construções que depreciam o exto dissertativo:
1. Os autores do último pacote econômico deveriam ser exterminados, um a um, pelo mal que fizeram à economia do Brasil.
2. Pessoas como essas, que estupram e matam, devem arder para sempre no fogo do inferno.
3. Morte aos monstros que assaltam e roubam em nome do progresso...
4. A morte é castigo muito pequeno para quem estupra e mata...
5. Criminosos assim não merecem a pena de morte. Merecem uma doença incurável, que provoque o apodrecimento lento do corpo e da alma...
6. Pessoas assim não devem morrer. Devem ficar presas para sempre, mesmo depois de mortas, para que suas almas não cometam crimes por aí.
7. O abuso sexual contra crianças deve ser punido com a morte. Não a morte pura e simples, por meio de choque elétrico ou de injeção letal. Os pedófilos devem, antes de morrer, passar pelo estupro, para que sintam a mesma dor que provocaram em suas vítimas.
PECADO 8 Abreviações e números
Caráter didático
O caráter didático da dissertação poda inovações e vícios próprios da pressa ou do desleixo. Por isso, as expressões numéricas devem ser escritas por extenso, e as abreviações devem ser usadas com cautela, até pelo aspecto da correção gramatical. Poucos têm segurança no momento de grafar por extenso determinados números e de abreviar determinadas palavras. Veja exemplos que a norma culta condena:
1. O vestibular é injusto e ñ (não) mede capacidade de ninguém.
2. É c/ (com) desespero que notamos o aumento da criminalidade no Brasil.
3. Faz-se necessária uma reforma profunda no ensino p/ (para) q/ (que) se possa exigir mais do aluno brasileiro.
4. Nos E.U.A. (Estados Unidos), o racismo é mais forte que no Brasil.
5. Pesquisas atestam que 90% (noventa por cento) do povo brasileiro votam sem consciência político-social.
PECADO 9 Repetições
Vocabulário escasso
A repetição (quer da ideia, quer da mesma palavra) causa impressão desagradável a quem lê: sugere pobreza de vocabulário.
Faz-se mister, nesse caso, o uso de sinônimos adequados.
Veja construções erradas; compare-as, a seguir, com o modelo correto.
1. Errado – A poluição, por sua vez, prejudica qualquer tentativa de desenvolvimento, pois o desenvolvimento só consegue beneficiar o homem se estiver dissociado da poluição.
Certo – A poluição, por sua vez, prejudica qualquer tentativa de desenvolvimento, pois as inovações só conseguem beneficiar o homem se estiverem dissociadas de qualquer aspecto maléfico.
2. Errado – A inflação gera desemprego; para combater a inflação, o governo deve atacar o déficit público e abaixar as taxas de juros, pois com juros tão elevados, os ricos é que se beneficiam do fenômeno da inflação.
Certo – A inflação gera desemprego; para combatê-la, o governo deve atacar o déficit público e abaixar as taxas de juros, pois é sabido que o fenômeno inflacionário beneficia os ricos e prejudica os pobres.
PECADO 10 Inovações na caligrafia
Letra grande
Numa dissertação de vinte linhas (tamanho mínimo exigido em concursos e vestibulares), se a letra do aluno é muito grande, esse mínimo deve ser ampliado para vinte e cinco, trinta linhas. A razão é óbvia: muitos alunos aumentam a letra para alcançar a quantidade de linhas exigidas no exame.
Espaços entre as palavras
Os espaços em branco entre as palavras constituem recurso muito usado por quem tem dificuldade de escrever. Porém os professores encarregados da correção conhecem bem esse artifício. Por isso, se você, naturalmente, escreve assim, tente evitar os espaços exagerados entre as palavras. Se não for possível, escreva uma dissertação com bastantes linhas.
Letra muito pequena
Há alunos com letra tão reduzida que, dependendo do caso, o professor, mesmo de óculos, não consegue ler. Pior ainda: o próprio aluno, quando questionado sobre o que escreveu, também não consegue.
Letra ilegível
Às vezes, o aluno demonstra que vai fazer  vestibular para Medicina por meio da grafia das palavras: já exibe letra de médico. Para decifrá-la, só pedindo ajuda ao pessoal que trabalha em farmácias. Não se trata de letra feia, mas de escrita ilegível. A sua grafia pode ser feia e legível. Nesse caso, tudo bem.
Dissertação não é um concurso de caligrafia
 

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